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Período Especial: veja como cada curso da graduação do Setor de Ciências Exatas enfrentou o ensino remoto

 

O Período Especial, que foi aprovado em 19 de junho na Resolução 59/20 e iniciou em 13 de julho, está em reta final. Segundo dados de uma pesquisa realizada pela UFPR, as aulas na graduação atenderam 70% dos alunos. E segundo a Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional (Prograd), as matrículas nos três primeiros ciclos do período especial cobriram, em média, cerca de 35% das matrículas nas disciplinas do primeiro semestre de 2020. Professores do Setor de Ciências Exatas relataram as principais dificuldades e o como foi o andamento das disciplinas no modo de ensino remoto. 

 

Os desafios mais mencionados foram de adaptação em relação aos novos  recursos tecnológicos nas disciplinas, além da falta de contato direto com os alunos. Muitos professores participaram dos cursos oferecidos pela Coordenadoria de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD) e  Unidade de Capacitação e Qualificação da UFPR. Além disso, a interação com o aluno também foi um fator preocupante para os professores.

 

Cada curso passou por sua própria experiência em relação ao Período Especial, veja como foi para cada um:

 

Curso de Matemática

Segundo a coordenadora do curso, Ximena Mujica, o Período Especial foi um grande desafio, tanto para docentes quanto para alunos, pois exigiu muitas horas de dedicação: “tanto por ter que preparar materiais para as plataformas virtuais, o que demanda mais tempo do que o preparo de aulas presenciais, quanto pela novidade de trabalhar num formato distinto daquele com o que se estava habituado”, comenta. A maioria dos docentes optou por aulas assíncronas e por disponibilizar materiais nas plataformas, o que requer um pouco mais de trabalho.

 

Para o professor Lucas Pedroso, aprender a trabalhar com as limitações do ensino remoto foi muito desafiador: “dominar as ferramentas tem sido um processo contínuo, e certamente em um eventual semestre remoto decisões diferentes serão tomadas com respeito à escolha das plataformas para as atividades síncronas, critérios de avaliação, conteúdo programático, entre outros aspectos”. Ele ainda ressalta que a união dos professores em se ajudar foi fundamental. 

 

Outra dificuldade foi avaliar o rendimento e o interesse da turma, já que o feedback visual foi perdido: “há muito o que se refletir sobre como fazer com que a experiência seja o mais proveitosa possível para o aluno”, fala Pedroso.

 

No curso de Matemática, dos oito departamentos que o atendem, seis ofertaram disciplinas. A adesão inicial dos alunos foi de 74%, mas um mês depois do início das aulas caiu para 65%. Mujica explica que essa queda está relacionada ao fato de que muitos alunos não souberam mensurar a carga de trabalho e que optaram por cancelar alguma disciplina. Mas mesmo com a queda, o número de estudantes superou as expectativas. 

 

A professora Maria Eugênia Martin fala que as dificuldades foram variadas: “desde a falta de equipamento como um bom microfone ou uma mesa digitalizadora até a falta de conhecimentos sobre o funcionamento de aplicativos, salas de aulas virtuais e as diferentes opções de ferramentas disponíveis para o ensino não presencial”. 

 

Além disso, a falta do contato com os alunos, já que muitos não ligavam as câmeras, também foi sentida. Foram necessárias muitas adaptações: “nós tivemos que repensar nosso planejamento das aulas, não é o mesmo planejar uma aula presencial que uma vídeoaula. Além disso, o trabalho foi duplicado ou triplicado ao ter que gravar e editar as aulas. Com certeza foi produtivo do ponto de vista de tudo o que aprendemos sobre o uso de tecnologías, explica Martin.

 

“Não podemos avaliar o PE da mesma forma que medimos semestres de até ano passado. Eu arrisco dizer  que as expectativas foram superadas. Ainda teremos que esperar para saber o aproveitamento nas disciplinas. Se isso  chegar  perto do  que ocorre  em semestres comuns, certamente terá sido uma boa experiência”, comenta Mujica.

 

Curso de Expressão Gráfica

De acordo com a coordenadora do curso, Arabella Galvão, o comprometimento dos alunos e professores com o ensino remoto foi excelente e o resultado foi positivo: “eu achei o comprometimento dos alunos excelente, na maioria, realmente estavam dispostos a estudar, por isso tivemos baixos índices de reprovação”.

 

A coordenação do curso desenvolveu um questionário para os alunos que participaram do Período Especial responderem. A maioria dos alunos aprovaram e aprenderam com as aulas. Em questão a organização e a facilidade de estudo dos próprios alunos, houve uma necessidade de adaptação, já que muitos não tiveram aulas remotas antes. “Podemos inferir que os professores que se dispuseram a trabalhar no ERE fizeram um ótimo trabalho, pois os alunos, mesmo sem experiência anterior com o ensino remoto, puderam efetivamente aprender os conteúdos propostos”, destaca Galvão. 

 

No total, participaram 119 alunos e seis professores. Foram poucas disciplinas ofertadas pois poucos professores aderiram ao Período Especial. E além disso, foram escolhidas matérias que resolveriam problemas, já que o curso está em transição de currículos.

 

A professora Isabella de Souza Sierra conta que encarou o ensino remoto sem expectativa e como um período de experiência. Para ela foram duas dificuldades principais: capacidade computacional e de softwares, já que muitos utilizavam os computadores dos laboratórios; e traduzir as aulas práticas no ensino a distância: “para resolver esses problemas, foi bastante criatividade, um pouco de concessões, então algumas coisas que realmente não tem como fazer foram deixadas para uma situação no momento em que as aulas retornem.” Além disso, materiais e tutoriais dispostos na internet ajudaram em exemplificar nas aulas.

 

“Eu acho que foi interessante pela questão que obrigou a gente a pensar em soluções para problemas que a gente não sabia que iria ter e também nessa integração com o virtual que já tava na hora da gente fazer”, fala Sierra. Assim, para ela, o Período Especial ajudou na necessidade de fazer alguma coisa dentro do contexto de quarentena. Ela também conta que notou os alunos sentem muita diferença entre o presencial e o virtual.

 

Essa diferença também foi percebida pelo professor Anderson Teixeira Goés. Para ele, uma das principais dificuldades foram em relação ao aluno lidar com a autonomia que receberam, especialmente no começo. “A dificuldade era deles conseguirem se encaixar nessa forma de ensino. De eles terem essa rotina, de eles terem esse compromisso de saber que naquele dia, naquele horário que eles tinham se programado, eles tinham que fazer a atividade. Porque é bem diferente eles virem para a sala de aula, naquele horário definido na semana.”, informa Goés.

 

Góes utilizou diversos recursos educacionais para facilitar o ensino remoto: “desde questionários online, que eles tinham que responder, teve um recurso educacional que eu utilizei que eles faziam um mural virtual, fóruns, textos colaborativos”. Além disso, gravou algumas aulas para a disciplina. “Essas dificuldades foram contornadas dessa forma e os alunos disseram que foi realmente produtivo e que eu posso estar trabalhando dessa forma com as demais turmas”, conta.

 

Curso de Física

Para a coordenadora, Camilla de Oliveira, o Período Especial foi um momento de aprendizado para os próximos passos: “o Ensino Remoto Emergencial permitiu que nos familiarizarmos com as ferramentas disponíveis e com essa nova dinâmica de ensino e convívio docente-discente”. 

 

A coordenação do curso abriu 17 turmas, sendo 12 ofertadas pelo Departamento de Física. Foram 321 vagas ofertadas pela Coordenação e 228 alunos atendidos e alunas atendidas com pelo menos 1 matrícula, e  vários alunos fizeram matrícula em mais de uma disciplina.

 

O curso iniciou o Período Remoto sem ter muita expectativa, mas resultaram surpresas agradáveis: “como a adesão dos e das estudantes e de alguns e algumas docentes, que se dedicaram ministrando aulas síncronas com uma grande carga horária semanal e assíncronas com uma grande variedade de avaliações e ferramentas, para permitir a melhor experiência de aprendizado para os alunos e as alunas”, comenta de Oliveira.

 

Para a professora Alessandra Barbosa ministrar as disciplinas em um tempo menor de maneira remota foi desafiador tanto para docentes quanto alunos. Foram diversas as dificuldades, desde a preparação do curso, pensando no formato e nas avaliações, até a concretização, passando por instabilidade da rede, UFPR Virtual fora do ar em algumas situações, dificuldades em lidar com as plataformas digitais, entre outras. “Embora eu já tivesse ministrado os cursos antes, regular e presencialmente, foi preciso adequá-los para as aulas remotas, precisei preparar apresentações com as aulas, comprar uma mesa digitalizadora, entre outras”.

 

Barbosa relata que os alunos sentiram muito com a intensidade do período, já que os ciclos foram semanas e não um semestre: “os alunos e as alunas das duas disciplinas relataram que o curso foi muito denso. E isso foi um fator dificultador, em particular para aquelas e aquelas que trabalham”. 

 

O professor Márcio Bettega teve uma experiência um pouco diferente, já que os alunos eram do último ano do curso e por ser um turma pequena: dos oito alunos matriculados, apenas quatro cursaram: “como Mecânica Quântica II é uma disciplina de último período, os estudantes já têm uma certa maturidade para o estudo individual, o que ajudou bastante no andamento do curso”.

 

As aulas foram síncronas, através da plataforma Teams, com uso de slides e mesa digitalizadora. “Houve pouco tempo para o preparo da disciplina, digitar as notas de aula, aprender a usar a plataforma, mas de maneira geral, eu gostei da experiência e pretendo repetir caso haja novo período especial”, comenta Bettega.

 

Curso de Química

Segundo a coordenadora, Andrea de Oliveira, o Período Especial foi positivo e muito produtivo, tanto para alunos quanto para os professores. “Há relatos de professores que os alunos em algumas disciplinas tiveram um desempenho melhor do que quando na modalidade presencial”, comenta. As disciplinas de seminários são um exemplo desse maior comprometimento do alunos.

 

Seriam duas as principais dificuldades encontradas no ensino remoto: adaptação às plataformas virtuais, pelos professores e pelos alunos; e o número de vagas ofertados em cada disciplina. Oliveira explica que muitos professores sentiram uma certa resistência em aderir ao Período Especial, assim como houve aqueles que estavam impossibilitados de dar aulas, já que ministram aulas práticas. Mas a expectativa é de que em um novo ciclo, mais professores ofereçam disciplinas. “ de uma certa forma, eu vejo um balanço bastante significativo para o curso de Química, nos ofertamos em torno de 50% das nossas disciplinas”, explica Oliveira

 

Para o professor Daniel Rampon, as dificuldades podem ser divididas em duas categorias, operacionais e didáticas. Em relação as de origem operacional, é a falta de uma plataforma unificada para o ensino remoto, instabilidade de conexão de internet, necessidade de aprender novos recursos tecnológicos: “o ensino remoto nos estimulou a usar mais recursos tecnológicos diversos para o ensino, no entanto, isso exige uma curva de aprendizado por parte do docente, como também o auto aprendizado do professor de diversos softwares e sistemas novos”.

 

Já as dificuldades didáticas, Rampon elenca o contato direto entre professor e aluno e as aulas experimentais: “investimos muito tempo no uso de ferramentas que compensem essa distância. Por exemplo, a utilização de listas de exercícios e correções dessas listas de forma remota foi intensa, exigindo muito do professor e estudante. A realização dos experimentos pelos alunos não é substituída somente com a visualização de um experimento na tela do computador. O contato direto com os equipamentos, vidrarias e reagentes é insubstituível”.

 

No curso de Química, 81% dos alunos aderiram ao Período Especial.

 

Curso de Ciência da Computação

A maioria das turmas abertas foram pequenas, já que os professores precisavam aprender a utilizar as ferramentas virtuais. Foram 25 turmas nos três ciclos e 21 professores, dos Departamentos de Informática, Estatística e Matemática. E o curso de Ciência da Computação teve o total de 472 matrículas.

 

Segundo o coordenador, Luiz Carlos Albini, a principal dificuldade para os professores foi a forma de avaliação, já que o ensino remoto requer adaptação. Já em relação aos alunos, eles preferiam quando as aulas eram gravadas e em vídeos menores, pois permitem um tempo maior para se dedicarem. “O que toma mais tempo é a preparação e gravação das aulas, bem com a correção dos trabalho, pois estou passando muito mais exercícios para avaliar os alunos. Já cheguei a gastar mais de 2 horas para conseguir gravar uma aula de 20-30 minutos”, comenta Albini.

 

Curso de Estatística

Para o coordenador, César Taconelli, o ensino remoto precisou que professores e aluno se adaptarem ao estilo, mas houve uma avaliação positiva: “todos procuraram fazer o seu melhor e eu acho que o saldo disso, dada a situação atual, é bastante positivo”.

 

No curso de Estatística, entre 8 e 10 professores ofertaram disciplinas no Período Especial, dos departamentos de Estatística, Matemática e Informática. E a maior parte dos alunos pode se matricular em pelo menos uma disciplina.

 

As principais dificuldades foram de adaptação. “Os professores tiveram que desenvolver novas habilidades, novas formas de técnica de ensino, serviu também para que nós pudéssemos aprender novas ferramentas, e novos recursos que já estavam disponíveis anteriormente, mas subutilizados na oferta presencial das disciplinas”, explica Taconelli.

 

Curso de Matemática Industrial

Segundo o coordenador, Manuel Barreda, professores e alunos que aderiram ao Período Especial, se empenharam para fazer funcionar. Participaram 12 professores e 53 alunos. Mas esperava-se um número maior de alunos em algumas disciplinas.

 

Entre as dificuldades, Barreda comenta que para os alunos, foram as cargas horárias das disciplinas: “em função dos horários propostos para as disciplinas em período especial e pela limitação da carga horária (180h), alguns alunos tiveram que cancelar sua matrícula”. Já em relação aos professores, nenhum relatou nenhuma grande dificuldade.