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Alice Grimm, professora do Departamento de Física, é pesquisadora referência na Meteorologia e a cientista da UFPR mais citada em 2019

 

No dia 16 de outubro um grupo de pesquisa da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, publicou no Journal Plos Biology, a lista dos cem mil cientistas mais influentes do mundo. A professora Alice Grimm, do Departamento de Física, foi a professora da UFPR mais citada durante o ano de 2019, ficando na 26.338º posição. Há 45 anos como professora na UFPR, Alice Grimm é referência em pesquisa na área da Meteorologia, com foco em variações climáticas, seus impactos e previsibilidade.

 

Foi uma surpresa muito agradável. O fato de ter algum reconhecimento é até um consolo: você trabalhou muito duro, mas afinal de contas você chegou em algum resultado que trouxe algum reconhecimento, houve algum impacto do que você fez”, diz Grimm sobre o reconhecimento na lista dos cem mil cientistas mais influentes do mundo. 

 

A trajetória e a carreira

 

Formada em dois cursos na UFPR, o sonho da professora Alice Grimm era Arquitetura e Urbanismo. Mas, aconselhada pelo irmão, professor do Departamento de Física na época, prestou vestibular também para Física, em um momento em que cada curso cuidava das provas. “Eu disse que ia fazer Arquitetura e ele teve aquelas premonições que irmão mais velho tem”, conta Grimm. Então, em 1972 se formou em Física e, em 1973, em Arquitetura e Urbanismo.

 

A vida profissional começou na área de Arquitetura e Urbanismo, trabalhando no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC). Mas quando abriu a oportunidade de fazer o concurso para professor no Departamento de Física, Grimm não hesitou: “realmente descobri que era disso mesmo que eu gostava. Deve ser algo genético porque meus pais eram ambos professores e, dos 5 filhos, 4 viraram professores”, brinca. 

 

A carreira na pesquisa científica iniciou com o Mestrado em Ciências Geodésicas da UFPR, concluído em 1982. Mas o que realmente definiu o caminho para o doutorado em Meteorologia foi o impacto das enchentes de 1983 em Santa Catarina na vida da família: “Ocorreram enchentes catastróficas e foi uma tragédia que me marcou muito. Eu li sobre o assunto e vi que o pessoal atribuía aquelas enchentes a um fenômeno chamado El Niño. Aqui no Brasil praticamente nada tinha sido estudado a respeito desse fenômeno, poucos trabalhos, de maneira que não se previu essa tragédia toda. Então eu resolvi estudar esse fenômeno”, conta Grimm.

 

Com isso, ela iniciou o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), com o foco da tese em descobrir o impacto remoto das fontes anômalas de calor tropicais e como prever isso. Ou seja, impactos de fenômenos que liberam muito calor na atmosfera, como o El Niño, sobre a Região Sul do país. “Viajava toda semana 800 km para ir até a USP. E só voltava no final de semana. Realmente foi muito trabalhoso”, explica Grimm. O trabalho valeu a pena, pois a tese recebeu o Prêmio USP de Pós-Graduação em 1993, conferido às três melhores Teses de Doutorado da Universidade de São Paulo, nas áreas de Ciências Exatas e Tecnológicas, Ciências Humanas e Ciências Biológicas, entre as cerca de 700 Teses de Doutorado produzidas em 1992 na USP.

 

Professora Alice Grimm é referência em Meteorologia, com pesquisas sobre oscilações climáticas globais com impactos na América do Sul. (Foto: Tamiris Moraes/Agecom/DGC/UFSC)

 

A pesquisa científica

 

A partir daí, Grimm seguiu na carreira de pesquisa na área de Meteorologia, participando de Congressos, Comitês e Painéis internacionais e estudando os fenômenos El Niño, La Niña, monções e outros tipos de oscilações climáticas globais com impactos na América do Sul. Estabeleceu contatos com pesquisadores de muitos países e conta, por exemplo, que escreveu o primeiro artigo conjunto de pesquisadores brasileiros e argentinos sobre Meteorologia. “Achei o meu nicho e é o que eu realmente gosto de fazer”, comenta Grimm.

 

Segundo ela, na área da Meteorologia, a pesquisa científica ajuda a prever desastres naturais, como enchentes e deslizamentos. Além disso, ajuda a defesa civil, a agricultura, a geração de energia hidrelétrica e os negócios de empresas em vários setores. “Pesquisa científica é essencial. São informações que permitem às pessoas tomar decisões e se protegerem. Isso é ciência”, fala Grimm.

 

Ao longo da carreira surgiram dificuldades, sendo algumas devidas ao fato de ser mulher na ciência. Mas para ela uma das maiores dificuldades é ser a única pesquisadora do departamento no Grupo de Meteorologia da Universidade Federal do Paraná. Grimm revela que produziria mais se tivesse mais colegas na área: “uma coisa que obviamente tornou minha carreira mais difícil, é o fato de eu ser um grupo do eu sozinho, em termos de pesquisadores”. Contudo, ela ressalta que o trabalho com alunos de graduação, pós-graduação e visitantes do Grupo é muito gratificante.

 

Grimm garante que ainda tem muito a produzir. O reconhecimento recebido através das citações de seus trabalhos, o conhecimento já produzido e as muitas perguntas ainda por responder servem como incentivo para continuar na pesquisa. Para ela, o objetivo é descobrir cada vez mais sobre os assuntos que a interessam e são úteis para a sociedade. Quanto mais ela descobre, mais percebe quanto ainda falta: “o meu objetivo é cobrir o máximo possível as oscilações climáticas, seus mecanismos físicos e suas combinações  que mais impactam a América do Sul”, informa.